Bem-vindos ao tune-O-matic. Sintam-se a vontade para opinar, criticar e sugerir.

domingo, 25 de julho de 2010

Walk The Nile - Elephant9 |Rock|


Walk The Nile  -  Elephant9    |Rock|

O mais novo capítulo do jazz-rock fusion.


Rótulo pega; e estamos acostumados a ligar o nome jazz-rock com aquela mistura de funk, rock e jazz que dominou boa parte dos anos 70. Nomes como Return To Forever, Mahavishnu Orchestra, Jeff Beck e Weather Report aprenderam com Miles Davis e abusaram do estilo até a última gota - e nós queríamos mais.

O ponteiro gira e os ares mudam. Por mais que eu seja fã e adepto de toda a onda retrô que vem se disseminando desde o fim dos anos 90, a pergunta nunca calou: - o que seria o jazz-rock de hoje ?

A resposta veio com os noruegueses do Elephant9. Fundado em Oslo em meados de 2007, o trio, formado por Ståle Storløkken órgão,  Nikolai Eilertsen baixo e Torstein Lofthus bateria, oferece uma furiosa onda sonora que Nikolai no progressivo e no hard-rock dos anos 70 e, obviamente, na fase elétrica do já citado Miles Davis.
Influências a parte, a banda passa longe de ser retrô. Ouça e perceba a realidade grunge, o abuso de decibéis comuns ao rock atual.

"Walk The Line", lançado em 2010, é o segundo álbum do Elephant9 e está mais focado no jazz do que no progressivo que marcou o primeiro álbum da banda.
Vale destacar as faixas Fugl Fønix e John Tinnick. O trabalho de Torstein Lofthus é algo a mais.

Elephant9 certamente vai agradar aqueles que curtem um som mais pesado. Mas esteja avisado - eles não fazem do 'peso' uma virtude - apenas uma ferramenta; o que por si só, já é raro.

Absolutely Free - The Mothers Of Invention |Rock|


Absolutely Free  -  The Mothers Of Invention    |Rock|

Lançado há 43 anos, “Absolutely Free” , em companhia de muitos outros títulos do compositor, continua anos-luz a frente da música pop mundial.


Considero desnecessário passar horas buscando palavras para tentar descrever a força da genialidade de Frank Vincent Zappa. Mesmo porquê, palavras não são nada. Cada um que tire suas próprias conclusões.

Vejo que o melhor que eu posso fazer pelo próximo, é deixar o convite – ouça Zappa. Eu demorei um pouco; apesar de saber que o sujeito era genial e blá, blá, blá. . . , a minha ficha não caia. Até que um dia – caiu.

Minha teoria é que existe o momento certo. Você tenta ouvir um tipo de música a vida toda, mas sempre acaba se perguntando -  qual é a graça nisso ? Até que um dia – as nuvens pardas da mediocridade se afastam e você finalmente se odeia por não ter ouvido aquilo antes.

Tem um jeito mais simples – Zappa: ame-o ou odeie-o.

“Absolutely Free”, de 1967, é o segundo passo na extensa  e densa discografia do músico americano. Nesse período, Frank ainda assinava seus discos com o jocosamente pretensioso nome de sua banda The Mothers Of Invention.
Crítica e público, que já haviam se escandalizado com o debut “Freak Out”, tiveram que encarar um álbum ainda mais audacioso e esquizofrênico.

Em “Absolutely Free” os Mothers filtram um leque de influências que incluem a música de vanguarda dos compositores Edgard Varèse e Igor Stravinsky, pop, rock, psicodelia, blues, vaudeville, country music, etc. . .   Tudo amarrado com longas sessões polirítmicas, grandes instrumentações, instrumentações toscas, cortes e sobreposições de fita, virtuosismo em áreas nunca dantes exploradas e uma imaginação sem precedentes. Para fechar o pacote – humor. Um humor ácido, sarcástico e afiado. Nada lhes escapa; hippies, o governo americano, o povo americano, eles próprios.

Plastic People abre o álbum, citando o clássico Louie Louie e ridicularizando os E.U.A. Duke Of Prunes mostra que o espírito contestador de Zappa também é capaz de criar melodias de beleza rara, apesar da maneira burlesca com a qual ele trata seus próprios temas. Call Any Vegetable é, para este que voz digita, uma das melhores da carreira de Frank Zappa. Big Leg Emma se tornou um clássico para os fãs, assim como Brown Shoes Don`t Make It. Why Don’tcha Do Me Right?, America Drinks, enfim – tudo.

A primeira audição tudo pode se resumir a uma desmedida cacofonia nonsense. Mas não se engane. Tudo o que se ouve é intencional; é composição. Cada frase, cada inflexão, cada acorde fora do lugar, cada som foi ensaiado à exaustão; a ponto das músicas figurarem nos concertos de Frank Zappa com absurda fidelidade às gravações originais.
É música, criatividade, virtuosismo, arte e trabalho levados às últimas conseqüências.

Será que você está pronto ? 

quarta-feira, 21 de julho de 2010

To The One - John McLaughlin and The 4th Dimension |Jazz|


To The One  -  John McLaughlin and The 4th Dimension    |Jazz|
 
Inspiração, energia e virtuosismo sobram, no novo álbum do sexagenário mestre do electric jazz.


John McLaughlin não se cansa de prestar seus respeitos a sua maior influência musical, estamos falando de John Coltrane.
Desta vez, covers e reedições deram lugar a seis faixas autorais construídas a partir dos conceitos de Coltrane; algo como um bebop (devidamente modal) trajado de fusion.

Para tanto, o guitarrista optou por não assinar o projeto como um disco solo, mas sim como The 4th Dimension; banda formada por Mark Mondesir bateria, Gary Husband teclados e também bateria,  o camaronês  Etienne Mbappé no baixo e Sir McLaughlin na guitarra.


Impossível ressaltar essa ou aquela faixa. "To The One"  (ou Para Coltrane, se você preferir), é uma única onda sonora - dividida em seis perfeitamente não lapidadas faixas. A única ressalva vai para a faixa que fecha o álbum - em To The One, a banda revisita um clássico da Mahavishnu Orquestra e McLaughlin improvisa no sintetizador via sua guitarra midi - uma marca registrada de seus álbuns.

A banda, claro, é incrível. O mestre continua tocando com uma vivacidade que impressiona. Obrigatório, para músicos e fãs do estilo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pictures At Eleven - Robert Plant |Rock|


Pictures At Eleven  -  Robert Plant    |Rock|

Álbum de 1982,  estréia da carreira solo de Robert Plant.


Quando bateu a notícia de que Robert Plant estava preparando seu primeiro álbum pós-Zeppelin, não houve quem duvidasse - ele vai juntar um bando de amigos para tentar recriar uma falsa atmosfera zeppeliniana . Mesmo porquê, o que mais ele pode fazer ? Um cantor de blues ilhado no início dos coloridos anos 80. . . ?  Um dinossauro desgarrado ? Uma sobra dos anos 70 ?!

"Pictures At Eleven" chegou as prateleiras em 1982. Longe das expectativas, Plant mostrou que apesar de seu glorioso passado, não precisaria viver dele. "Pictures ..." é um ponto de partida, não uma continuação.
O som é muito mais para o pop rock que dominaria os 1980. Mas calma, não vamos confundir com aquela desgraceira insípida, inodora e automática que marcou a década. Plant foi para o pop, tudo bem - mas foi com estilo.

Uns dos segredos de todo grande artista, é saber escolher suas companhias. E para o som que buscava o vocalista convocou Robbie Blunt como guitarrista e parceiro musical e Phil Collins e Cozy Powell como bateristas. (Para quem tocou a vida toda com John Bonham, dois é o número mínimo)

"Pictures At Eleven" abre com Burning Down One Side e já se pode perceber que pop-rock não precisa obrigatoriamente ser estúpido. Moonlight In Samosa esbanja estilo, e classe; mas não deixa de ser uma simples canção. Uma belíssima simples canção. Pledge Pin mantém a elegância e é enriquecida pela bateria de Collins.
Talvez para não ser visto como traidor por fãs mais ardorosos, Slow Dancer chega para saciar as saudades do velho Led Zeppelin. Cozy Powell não deixa a desejar neste verdadeiro tributo à banda e à John Bonham.
Fat Lip talvez seja a mais enigmática de todas as faixas. Construida em torno de uma batida simples de bateria eletrônica, a faixa soa moderna até hoje. As guitarras de Blunt são limpas, diretas e minimalistas. Um blues eletrônico ? Uma fossa sintetizada ? Ouça e me diga.
Ainda Worse Than Detroit, a balada Like I've Never Been Gone e o zep-riff de Mystery Title.

Minimalista, simples, sexy e elegante. O que mais impressiona é que neste primeiro trabalho solo, Robert Plant parece ter encontrado seu estilo próprio e o qual tem bem pouco haver com seu estrelato anterior.
Sua voz, claramente menos potente, é utilizada com classe e sabedoria. Plant sabe trabalhar dentro de suas limitações e não tenta emular os prodigiosos agudos que o fizeram famoso. Ele parece saber o que fazer e quando fazer, até hoje.

Marcante do início ao fim.

Santana III- Santana |Rock|


Santana  III  -  Santana    |Rock|
  

Álbum de 1971, ponto alto da discografia de Carlos Santana.


As novas gerações estão acostumadas com aquele Santana velhinho, bonzinho, sempre com gorrinho de crochet na cabeça. Aquele que lança os DVDs que são distribuídos na farmácia quando você compra 20 paus em Aspirina. Aquele que sempre aparece tocando com um balaio de ídolos adolescentes de cabelo espetado e talento murcho.
Bom....  esqueçam !




Esse aí, não é o Santana. O verdadeiro você pode conferir aqui.

"Santana III" veio depois do grupo ter alcançado multidões com o também excelente "Abraxas" de 1970.
Mas os tempos eram outros. Naquela época, ter imenso sucesso com um álbum significava que você estava livre para experimentar o que quisesse (bom, mais ou menos). De qualquer maneira, Santana e seus amigos mexicanos poderiam se acomodar na fama e ficarem no mais do mesmo - assim como ele faz hoje.
Mas, como eu já disse, os tempos eram outros.

Para "Santana III" a banda tomou uma direção mais soturna, mais pesada. Nada se perdeu do clima latino e das intermináveis improvisações, mas o rock ficou mais presente. A atitude é mais evidente, com pitadas de fusion, funk e Soul. A guitarra de Carlos Santana soa cortante, desvairada e esbanja sentimento.
Grande originalidade, musicalidade inventiva e livre e muita competência.

Batuka abre o álbum e mostra que a coisa é seria. Uma das melhores faixas da discografia do guitarrista. No One To Depend On traz o clima e você embarca na onda Santana. Taboo nos leva a lugares mais obscuros. Blues latino.
Everybody's Everything flerta com a soul music, enquanto a impagável Guarija remete às raízes do folclore mexicano. Pra finalizar,  Jungle Strut é uma obra-prima; a perfeita fusão de blues, rock, jazz, funk e salsa. (Que fusão ?!)

Por ter feito esse disco, Carlos Santana merece estar ao lado dos maiores músicos do nosso tempo. Um mestre, antes de se transformar em algo. . . supernatural.